sexta-feira, 5 de maio de 2017

Objetivamente falando...

Estava conversando com o Facínora, membro da staff do Gaming Room (página do Facebooksite do Gaming Roomcanal do youtube do Gaming Room) sobre críticas, como existem críticas boas boas, críticas ruins boas, críticas boas ruins e críticas ruins ruins. Em outras palavras, críticas positivas e negativas que podem ser boas, bem fundamentadas e lógicas, ou ruins.

Tratei um pouco sobre isso no texto sobre o series finale de Seinfeld, falando de incapacidade crítica, mas é um assunto bem mais complexo, porque abre portas para uma objetivização da arte muito interessante.

As pessoas não conseguem diferenciar gosto pessoal de fato e de qualidade. Gosto é pessoal, é formado por uma série de critérios relativos. Para exemplificar de forma bem clara: uma pessoa pode gostar de Friends sem o menor problema, mas dizer que Friends é bom é uma coisa totalmente diferente.
Isso não vale só para artes cênicas e plásticas, onde é muito mais fácil de ver (abaixo deixo um vídeo interessante sobre o assunto). Música também é assim, televisão também é assim.

Explico:


Apesar do título desse vídeo ser muito mal escolhido (e mentiroso), o conteúdo é bem relevante. Existe um establishment artístico que acaba ditando o que deve ser considerado bom e o que deve ser considerado ruim, daí temos obras sem a menor lógica ou técnica colocadas em pedestais, como vários exemplos do vídeo, e financia peças de teatro cuja única coisa acontecendo é pessoas colocando dedos em partes privadas dos outros e coisas assim.
A relativização não necessariamente é do que é arte, mas do que é arte boa ou arte ruim. Claro que artistas como van Gogh só foram ser considerados colossais depois de suas mortes, mas há justificativas além de "é chocante", "é desafiador": técnica, representação de um contexto histórico artístico, o que significa dado esse contexto, entre tantos.

Quando comparamos obras tão diferentes quanto as comparadas no vídeo fica fácil notar isso. O problema é quando começamos a atacar os gostos pessoais¹, e começam a se ofender. Piero Scaruffi e seu famoso texto sobre os Beatles dá um exemplo muito bom de porquê a banda inglesa não é (ao menos até 1965) de qualidade. Também diz, em sua lista dos 100 maiores álbuns de jazz:
"Traditionally, jazz has been associated with technique (an odd mis-interpretation of the original spirit of afro-american music by white intellectuals). I do not enjoy listening to music for the sake of a brilliant solo. That solo has to deliver emotion. If it is technically breathtaking but does not deliver any emotion, that musician is not very interesting (...). There is a difference (...) between a juggler and an artist."
Não é algo puramente técnico, nem algo puramente sentimental, e nem de puro entretenimento que vai ser considerado boa arte. Infelizmente, em sites como IMDb, RateYourMusic.com e similares, o que mais se vê são pessoas dando suas opiniões com autoridade. "Bringing it All Back Home? A voz dele é irritante! 1/10!", "Elvis foi um artista só de entretenimento, não é bom", "Nossa, como Nevermind é um álbum profundo!"
Ironicamente, já fiz críticas positivas e negativas propositalmente ruins, assim como boas. O melhor exemplo de crítica positiva ruim parecendo intelectual por causa de referências e tudo mais está aqui nesse blog: a minha resenha do filme de Kéfera Buchmann.

Não me entenda mal: não tem nada de errado em ter o gosto ruim, o problema é dizer que ele é bom. O mesmo vale para ser popular: ser popular não quer dizer necessariamente que é bom ou ruim, só é popular.

Em suma, não posso falar de algo que não entendo, como os lados de artes plásticas, visuais, cênicas, e similares, porém, se tratando especificamente de música, posso dizer que tendo a pensar que esse pensamento vem de uma série de críticos pop, como vemos na revista Rolling Stone, Time, e outras revistas que tratam temas musicais com apelo popular. Meios de comunicação assim fazem gente que não entende bem do assunto ser reconhecida por algo que não merece. Isso vale para todos os palpiteiros que vemos no dia-a-dia, do jornalista de opinião que passa na Globo News às figuras grotescas de Youtube como Nando Moura e Felipe Neto.
Não sei bem a razão, talvez a vontade de ter uma opinião para tudo, de não perder uma discussão ou o que for, mas o público (formado pelas pessoas comuns, do dia-a-dia, daquelas que você vê sempre) é incapaz de dizer as três palavras que desde Sócrates já indicam conhecimento: "eu não sei". Isso leva a uma série de achismos e palpites sem base que só empobrecem a opinião geral e incentivam mais crítica de falsa qualidade.

Bem, é isso.

¹ Até o Larry David já falou disso em uma entrevista nesse link, começando o assunto aos 13:35 e tratando o assunto especificamente, até mencionando um caso específico do episódio "The Ratdog" de Curb your Enthusiasm aos 16:20: "People who watch the show love the show until you hit their specific area." É uma entrevista muito interessante no geral.

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